O último Dostoiévski

Encontrado diário do grande escritor contendo contos e textos também chegará ao Brasil na integra.



Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-1881) pode ser colocado ao lado de Karl Marx e Sigmund Freud entre os construtores dos séculos XX e XXI. Vários movimentos artísticos ou filosóficos referendam esse escritor-filósofo. Friedrich Nietzsche concebe o seu conceito de super-homem a partir do autor russo; o expressionismo alemão e outros movimentos de vanguarda seguem em sua trilha e o mesmo se pode falar do existencialismo francês. A ponto de Albert Camus erguer uma de suas principais obras, O Estrangeiro, a partir do artigo “Sobre o processo Kroneberg”, publicado em O Diário de um Escritor, em 1876.Tal diário concentra a produção jornalística do autor, assim como alguns contos, e começa a ser publicado pela Editora Hedra. É o último dos trabalhos de fôlego de Dostoiévski que faltava chegar ao Brasil em versão direta e integral. A difícil tarefa coube a Daniela Mountian (doutoranda do curso de Russo da USP) e seu pai, Moissei Mountian (natural da Moldávia, ex-URSS), com a colaboração de Aurora Bernardini (professora do curso de Russo da USP). Serão quatro volumes; o primeiro de 1873, seguido dos anos 1876, 1877 e 1880-1881 (este ainda vai trazer textos avulsos de outra publicação).

O livro inaugural traz os textos da coluna “Diário de um Escritor”, publicados no jornal O Cidadão, onde o escritor atuou como editor-chefe. Os outros volumes reúnem artigos de periodicidade irregular, que devem muito à sua mulher, Anna Grigorievna Dostoievskaia (1846-1918). Ela atuou como empresária do marido, assumindo toda a vida financeira e dando-lhe tranquilidade para criar. Anna é uma personagem histórica na Rússia, não apenas por ser o pilar da vida de Dostoiévski, mas também porque foi a primeira mulher editora no país a trabalhar diretamente na gráfica, em ambiente insalubre e machista. Ela ainda compôs o grande acervo de documentos do marido – de rascunhos à correspondência –, que hoje formam amplo manancial para pesquisadores de todo o mundo.


Em sua juventude, Dostoiévski teve uma trajetória acidentada por várias redações de jornais, fora a sua prisão na Sibéria e outros contratempos. No início da maturidade, fundou o jornal Tempo com seu irmão Mikhail, que funcionou de janeiro de 1861 a abril de 1863, sucedido por Época (1864-1865). Após temporada na Europa com Anna, em 1873 e 1874, assumiu, então, o cargo de editor-chefe no jornal Cidadão.

A importância do Diário no conjunto de trabalhos de Dostoiévski pode ser medida pela reação de seus contemporâneos. Por exemplo, Eleva Stakenhneider, responsável por um dos mais prestigiados salões literários de São Petersburgo entre 1860 e 1870, lembrou que ele não ficou famoso apenas por sua estadia na prisão, por Recordação da Casa dos Mortos ou seus outros romances, mas, principalmente, por criar o Diário: “Esse trabalho fez seu nome bem conhecido por toda juventude russa e também por todos os interessados nas mudanças profundas da sociedade”.

Nascido sob o signo da polêmica, o Diário expõe seu ideário e define suas posições pelo engajamento, forjando pontos de vista pelo estabelecimento de tipos característicos, experiências e observações. Os temas envolvem questões políticas, econômicas, jurídicas e culturais, entre outras. Os eleitos das contendas eram escritores como Tolstói, Turgueniev e Leskov, ou críticos, pensadores, acadêmicos e jornalistas de Moscou e São Petersburgo.

Fonte: http://brasileiros.com.br/2016/04/o-ultimo-dostoievski/

2 comentários:

  1. Excelente post! Matou um pouco a minha curiosidade em conhecer o Dostoiévski hehe :)

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    1. Obrigado Fabrício. De imediato posso dizer que não se arrependeria de lê-lo. Recomendo

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