Resenha - Origem, Dan Brown

Após um bloqueio literário de quase dois anos, finalmente voltei ao ritmo das leituras (ufa!), revigorado após esse período pandêmico, ainda que parafraseando antigos médicos medievais "a peste ainda está entre nós", agora com três doses da vacina, estou mais otimista para este ano. O maquinário voltou a brilhar para o exercício da leitura, tanto a leitura laborática quanto a leitura hedonista. E aqui vai a primeira resenha de 2022.

Essa resenha contém spoilers, fique avisado, se ainda não leu Origem e pretende ler, pare aqui!

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Começando pela capa, pois merece uma certa atenção. Inteligente, sutil e despretensioso spolier que os editores colocaram ali. Pois quem lê a sinopse encontra Gaudí antes mesmo de abrir o livro.


Agora vamos ao que importa: De onde Viemos? Para onde Vamos? Duas das três perguntas primordiais da humanidade (a saber, a terceira é "O que Somo?") são o ponto de partida desta trama. O Prólogo posiciona o leitor como um juiz convidado a questionar alguns dogmas que balizaram a condução da sociedade humana, deixando claro que mais uma vez o autor coloca num ringue intangível duas velhas amigas: Ciência e Religião. O primeiro "soco" é deferido por Kirsch direto na cara do Fórum das Religiões. Confrontado reflexões filosóficas, alvejando as respostas dadas pela Religião em conflito com as dadas pela Ciência.

Dan Brown inovou a receita do bolo mais uma vez, sem ariscar perder o sabor. Onde antes o leitor passeava por pinturas e desenhos (Anjo & Demônios, O Código Da Vinci, O Símbolo Perdido), depois saltando para os poemas épicos e criptas medievais (Inferno) chegando agora ao ápice artístico e abraçando a arquitetura espanhola em ballet com o modernismo das grandes galerias de arte conceitual.


Robert Langdon se vê mais uma vez jogado para resolver um assassinato, desta vez o morto é o seu aluno mais promissor, um apaixonado admirador de Antoni Gaudí, famoso arquiteto Catalão. Fazendo com que nosso querido simbologista dê uma aula extraordinária sobre a vida e obra nos principais pontos turísticos da Espanha. Acompanhando por uma jovem curadora de arte envolvida em um casamento que representa o choque entre o mundo tradicional e conservador espanhol e o choque da juventude e suas tendências liberais.

O ultramoderno do Museu Guggenheim de Bilbao é o palco das primeiras encenações, no desenrolar da trama são sutilmente cuspidas com muita habilidade pelo autor através de Wilson, a I.A. (Inteligência Artificial) desenvolvida por Kirsch que acompanha Langdom e Amber (a jovem curadora prometida ao príncipe da Espanha). Passeando por praticamente toda a obra de Gaudí o autor mais uma vez presenteia o seu leitor com descrições tão detalhadas que com facilidade transporta a nossa mente para os cenários mais deslumbrantes, e devo dizer: Obrigado Dan!

Os personagens nesta trama aparecem ainda mais maduros, não se referindo a idade, mas a sua construção e concepção, o que leva a crer que o autor levou mais tempo e pode se dedicar mais a esse trabalho do que nos dois primeiros livros da série de aventuras de Langdon.

O desfecho da aventura é tão surpreendente que sem dúvida pode ser descrito como o ponto mais genial e ousado de toda a produção do autor. Carregado de reflexões e implicações de sua plausível concretude em um futuro nada distante. De fato, ao mesmo tempo também pode ser visto como uma crítica e alerta do autor para o desenvolvimento de I.A.s como também alertava Stiphen Hawkins, pode ser visto como uma conclusão perfeita para uma trama que não tem vilões (Ei, eu disse que tinha spoiler aqui).

Interpretado por Tom Hanks, Robert Langdon é um personagem fictício, professor de iconografia religiosa e simbologia da Universidade Harvard.

Já postei aqui no meu blog uma discussão sobre I.A. e Filosofia, sobre as possibilidades e implicações sociais, jurídicas e existenciais de tal fenômeno. Apesar das pitadas de pistas e respostas do autor, eu penso que poderia ter tido uma discussão mais aprofundada a respeito disso ao invés de enveredar pela velha saída clichê da utopia tecnológica dando uma resposta muito "rápida", ainda assim muito coesa.

Resumindo essa obra em três palavras (eu sei, é um audácia minha), Origem é: Cultural, Instigante e Pretencioso.

Minha nova ordem de favoritismos das aventuras de Robert Langdon agora é:

1. Inferno. 2. Origem. 3. Anjos e Demônios. 4. O Símbolo Perdido. 5 O Código Da Vinci.

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