VEM PRA RUA - A VIRILIDADE POLÍTICA BRASILEIRA

O Brasil está experimentando uma das maiores (se não a maior)  manifestação popular de sua historia, igualmente comparada as marchas e manifestações do Direta Já. Na última quarta-feira (20/06/13) 1 milhão de pessoas em uma centena de cidades pelo país estavam nas ruas. O próprio Planalto foi abraçado pelo Gigante (referência ao povo), mais de 50.000 manifestante resolveram passear pelo planalto.

Em todas as partes da país um grito de vox populi. Ecoam as palavras que logo estarão em nossos livros de Filosofia, Sociologia e Historia: "VEM PRA RUA", "O GIGANTE ACORDOU", "PRIMAVERA BRASILEIRA", "SEM VIOLÊNCIA".  Esses são só alguns dos gritos que são a expressão viva do movimento político que toma conta da nação. Desse movimento podemos destacar algumas características e previsões.


1. APARTIDARISMO

A insatisfação dos jovens (representantes massivos do movimento) com os políticos que estão no poder revelam uma total descrença partidária e revolta contra as legendas políticas que tentam aproveitar desse momento puramente popular. A Primavera Brasileira (como está sendo conhecida) revela que os cidadãos estão se aproximando de uma nova visão politica democrática,  visão essa que vê como falho e obsoleto o sistema "democrático" instaurado no país depois da Ditadura Militar, e vê a atuação dos partidos como impedimento a uma participação direta, dinâmica e genuína do povo na política nacional. E é otimista quanto à emergência de mecanismos de democracia direta. É possível que no final de todo esse despertar politico resulte em um dissolvimento ou abolição total de partidos, ou que no mínimo os atuais partidos deveriam ser substituídos por “frentes” civis, seriam como partidos que não são partidos,  liderança dinâmicas e reflexivas de uma coletividade ao invés de um coletivo particular.

2. APOLITISMO E SEUS RISCOS

O apolitismo é a recusa dos cidadãos, explícita ou implícita, em participar da esfera política e das escolhas que dela dependem. É o desinteresse pela a coisa pública. No Brasil, o apolitismo se manifesta quando os cidadãos se afastam dos políticos. Em vez de entrar no território ligado ao poder, os cidadãos se “retiram” para o território individual, familiar, religioso e até esportivo, tornando-se alienados a situação social, politica e econômica da nação.

A possibilidade de esse fenômeno criar ou desencadear uma regime ditador ou tirânico é claramente evidente, uma vez que o apolitismo cria “políticos profissionais”, políticos que não distinguem entre público e privado, políticos corruptos. Isso, por sua vez, estimula partidos populistas e demagógicos a espalhar a ideia de que todos os governantes são corruptos e que é preciso “limpar” a política, e que  eles são a solução, salvadores da pátria. Com tais argumentos, podem instaurar a ditadura ou regimes ilusórias de progresso aparente que manipula as massas com políticas de Pão e Circo (com efeito o governo federal lança bolsas esmolas e trás eventos mundiais para serem feitos no país Copas e Olimpíadas).

O individualismo é outra consequência de uma cultura apolítica. Trata-se de um paradoxo, porque o individualismo é uma conquista feliz da democracia e uma expressão da liberdade particular e, ao mesmo tempo, sua principal ameaça. A democracia deixa as pessoas livres para realizar, sozinhas, seus objetivos de vida. Mas, justamente por conseguirem preencher suas necessidades sem depender de outras pessoas, elas se preocupam menos com o grupo e se afastam da política — o que abre espaço para os bandidos de terno. Não se pode obrigar alguém a fazer política, o individualismo quando não distante da esfera política é uma das maiores conquistas da democracia. Trata-se de encontrar meios educacionais e institucionais que preencham a distância entre a comunidade e o poder. Pode-se reduzir o apolitismo por meio dos estudos filosóficos e sociológicos a respeito da política (textos clássicos como Ética à Nicômaco e A Política de Aristóteles, O Príncipe de Maquiavel, Do Contrato Social de Rousseau, os estudos de Habermas e Hannah Arendt acerca da esfera política entre outros)nas salas de aula, e por meio de campanhas (que podem ser virtuais). Há também soluções políticas, maneiras institucionais de melhorar o funcionamento da democracia. Para reduzir os votos brancos nas eleições, por exemplo, a Sérvia recentemente decidiu que, quando a porcentagem desse tipo de voto atingir certo patamar, nenhum candidato pode ser eleito. No caso do Brasil, existe uma série de implicações legais para os eleitores que deixam de comparecer as urnas, vale apena ressaltar que a obrigatoriedade da votação é algo ante democrático,  pois anula a liberdade de ação do civil dando à ele apenas a opção de escolha.

O povo deve está para a política como Don Juan está para as mulheres. O desinteresse dos cidadãos pela política ameaça a democracia, ao fomentar entre outros males a ação de oportunista do esvaziamento do espaço publico. Livre de cobranças, os oportunista por natureza criam o hábito de aprovar ou impor medidas desprendidas das verdadeiras necessidades e desejos dos cidadãos. 

Quando é governado por um tirano, o povo sonha em conquistar o poder. No entanto, ao alcançar a democracia, recusa-se a exercê-lo e abandona a política

A enfática expressão popular nacional ao passo que denota o Gigante que acordou, também enfatiza o contingente populacional que continua alienado às questões políticas do país, essa parcela aos pouco se converte em vozes e juntam-se as multidões nas ruas, mas é importante notar que no Brasil ainda existe uma forte cultura apolítica por parte da população, principalmente em cidades afastadas de centros desenvolvidos. O animal apolítico é um risco ao estado democrático por não se fazer uso da Voz ou do Espaço Público, tal elemento é o que também permite aos políticos uma acomodação e proporciona através disso a corrupção. A primeira consequência de um cidadão apolítico é um politico seguro em suas ações corruptas.  É importante que o cidadão faça uso dos veículos de comunicação como jornais, rádio, televisão e a internet, e em necessidade de maior clamor e demonstração de força, poder e da vontade popular, as ruas. O homem como animal apolítico é um ser sem expressão, mudo, vazio e tomado por de necessidades, o que dar margem para o político oportunista que aparece como messias, redentor e salvador dos desesperados.

UM VISÃO NEODEMOCRATICA

As novas "frentes" políticas teriam de se apresentar como novos canais democráticos  legítimos e vívidos de um amplo leque de anseios que não podem esperar por acordos burocráticos entre estruturas partidárias já sem comunicação real e identidade com o cidadão.

Desse rol de organizações ultrapassadas, sobrariam ideias-chaves e não lideres partidários  essas ideias seria REALMENTE discutidas em meio popular e não em sessões parlamentares ou votadas em votações secretas, isso de fato não seria uma total exclusão de partidos mais uma remodelagem do sistema atual, pois para a massa pulsante e avida por anseios de justiça ficou claro que não basta você "corrigir" o sistema, ele precisa ser refeito.

O elemento "partido" não tem mais função, usando um conceito da arquitetura, segundo o qual, num edifício ou equipamento, ao aspecto estrutural e estético deve sempre corresponder a utilidade, o que claramente podemos ver que como partido, esse sistema falhou em seu papel.

As novas frentes, precisam ser porosas aos interesses e demandas da população, as possibilidades de participação política direta serão mais bem exploradas e transparente, sobretudo agora que a tecnologia da informação propicia conexões ágeis e seguras e sem limitações, onde hoje qualquer pessoa pode acessar o Twitter ou Facebook pelo seu aparelho móvel e apresentar claramente e à todos suas opiniões.

O CYBERESPAÇO PÚBLICO

A clara importância e utilização da internet demostra o surgimento do Homo Virtualis (evolução do Homo Sapiens), essa nova figura do cenário humano tenta se adaptar ao novo ambiente inexplorado da internet e de seus recurso quase ilimitados. A Cybercultura deve criar uma co-relação com as estruturas físicas de poder, com o passar do tempo e melhoria dos sistemas comunicativos, o espaço físico e o espaço virtual se tornarão (se é que já não o são) um estrutura unica interagindo em ambas realidades como a mente se relaciona com corpo.

Os clamores da população estão visivelmente apresentados não só nas ruas como também nos abaixo-assinados pela internet, estes são expressões legítimas da vontade dos cidadãos, o frenesi do abaixo-assinado pela internet desafiam a classe política que até então se matia no poder isolada como "representante" da população e assume o papel de Voz ou Legitima Vontade de povo. Um exemplo disso é o mais claro monitoramento e o mais rígido controlo das petições virtuais que o de petições escritas.

Atualmente não existe um único modelo que resolva essa questão (e talvez nem exista), mas o fato é que isso tudo é tão inédito que o Homos Virtualis não sabe como lidar com isso. Tudo será inovação, mas as figuras e aspectos que ficarão dessa simbiose (real e virtual), serão as que ou estejam adaptadas a nossos hábitos físicos pré-Cyberdemocrático, ou aquelas que sejam tão atraentes que provoquem mudanças em nosso estilo de vida como participação em fóruns online nacionais, debates sobre mudanças constitucionais  As possíveis "Atualizações de Sistema" podem resultar também em um "ativismo de sofá", que será discutido em outro momento.

Essa nova realidade política, a cyberpolítica proporcionará manifestações tão fervorosas e legítimas quantos as manifestações que hoje ocupam as ruas de toda nação clamando por justiça. Contudo essa realidade (que está bem próxima) precisará de um maior investimento nas estruturas políticas bem como na alfabetização digital e ética cidadã para elevar o nível de debate na internet.

Uma melhora na inteligência coletiva online, uma inteligência coletiva mais reflexiva, mais hábil para conhecer a si mesma, o outro e a coletividade. Pois onde existe informação existe poder. Depois, uma melhor transparência dos governos, como justificativas e visualização das consequências das decisões orçamentárias entre outros tidos de debates.

A simbiose entre o ambiente real e virtual proporcionará o que talvez seja a máxima expressão democrática, bem como artística  filosófica ou ainda religiosa.

Há um crescente senso da importância da Esfera Pública Digital. Em geral, há uma mudança no debate público em direção ao mundo digital. Isso é provocado a medida que as discussões políticas se afastam do espaço público aberto e se restringem ao debate partidário  o que cria a necessidade e ocupação do espaço, seja ele físico ou não. De um lado, as pessoas podem debater e se expressar de forma muito mais eficiente com ferramentas digitais. Por outro lado, governos podem hoje ser muito mais transparentes, e os cidadãos precisam exigir cada vez mais transparência.

4 CYBER-REVOLUÇÃO 

Embora ditaduras, como China, Irã, e outras, façam censura e vigilância severas no cyberespaço de seus oponentes, os serviços de inteligência de todos os países tentam analisar os dados criados pelas pessoas. Porém, de forma geral, há muito mais liberdade de expressão com a internet do que sem ela. As futuras revoluções e futuras contra-revoluções, serão ou já são à principio informações tuitadas. A cyber-evolução política em torno do globo provam que esse cenário está se efetivando.

Próxima provocação: A Realidade Virtual

Referencia: O texto acima é uma compilação adaptada de uma analise feita dos estudos do filósofo brasileiro Vladimir Safatle e do filósofo francês Pierre Lévy.

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Obrigado

3 comentários:

  1. Muito bom Ronnison, parabéns! Só temo que o desenrolar dessas manifestações não chegue as urnas no ano que vem...

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    1. Obrigado meu caro Diego, e compartilho com você esse mesmo temor. Pois o ciclo da burrice é: se revoltar, protestar, chegar ao poder e se esquecer. Hoje vemos leões contra os políticos, amanhã (ano eleitoral) podem ser burros para os políticos.

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